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George Soros

Quarta-Feira Negra – Como George Soros causou o crash da libra esterlina

Última atualização em novembro 13, 2023

O dia 16 de setembro de 1992 ficou conhecido na história como a Quarta-Feira Negra. Foi quando ocorreu o crash da libra esterlina, que foi uma das principais razões pelas quais o Reino Unido não pôde adotar o euro. O evento acabou forçando a Grã-Bretanha a sair do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio (MTC). Por outro lado, a queda da libra gerou imensa riqueza para investidores como George Soros. Algumas estimativas indicam que ele ganhou US$1 bilhão apenas neste dia. Isso também causou uma enorme turbulência no cenário político do Reino Unido, pois eles estavam gastando dinheiro do contribuinte em uma tentativa de manter a libra em um bom patamar.

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O que foi a Quarta-Feira Negra?

Trezentos traders abriram posições vendidas na libra, o que causou uma forte desvalorização da moeda. Era uma exigência do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio (MTC) manter a moeda em um valor definido. O objetivo era garantir uma transição estável para uma moeda comum em toda a Europa. No entanto, a Quarta-Feira Negra foi um grande obstáculo para esse processo, e o governo do Reino Unido foi forçado a recorrer a várias medidas para evitar o colapso da libra. Em primeiro lugar, a taxa de juros na Grã-Bretanha subiu para 10%. Em seguida, as reservas de moeda estrangeira foram usadas para comprar libras nos mercados onde houve uma venda generalizada. Apesar dessas medidas, o governo do Reino Unido não conseguiu evitar que a libra continuasse despencando. A libra havia se desvalorizado significativamente, o que dificultou a permanência do Reino Unido no MTC.

O resultado da Quarta-Feira Negra foi que investidores como George Soros acumularam uma riqueza absurda às custas do Tesouro do Reino Unido. É por isso que Soros tem a reputação de ter quebrado o Banco da Inglaterra ao ter assumido uma posição vendida na moeda britânica. Os especuladores abriram uma posição vendida na libra e criaram estratégias de hedge para compensar a queda da moeda. O valor dessas posições era tão alto que a intervenção do governo do Reino Unido não foi capaz de reverter a situação.

Muitas pessoas também acreditam que a falta de envolvimento do banco central da Alemanha foi um dos motivos que agravou o movimento de venda. O Deutsche Bundesbank poderia ter usado o marco alemão para comprar libras, reforçando a atuação do banco central do Reino Unido. No entanto, não foi o que aconteceu. Essa falta de suporte dos países europeus só encorajou os especuladores a operarem vendidos na libra.

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Eventos anteriores à Quarta-Feira Negra

A Quarta-Feira Negra se deu a partir de uma sequência de eventos e decisões. Tudo começou quando o governo do Reino Unido adotou uma política semioficial de atrelar o câmbio da libra. Listamos abaixo os diversos eventos que levaram à crise:

Em 1987, o Reino Unido atrelou o câmbio da libra de acordo com um nível de tolerância

Durante o final da década de 80, a moeda britânica seguia uma política semioficial que limitava em 6% as oscilações cambiais em relação a uma cesta de moedas específicas. O objetivo era acompanhar a economia alemã, que vivia um cenário de baixa inflação e condições econômicas sólidas.

Em 1990, o Reino Unido se comprometeu com a política do Mecanismo Europeu de Taxas de Câmbio

Embora o Reino Unido ainda tentasse seguir um sistema de câmbio fixo, foi apenas em 1990 que o país aderiu ao MTC. O Reino Unido foi obrigado a garantir a estabilidade de moeda. Naquela época, a libra era uma das moedas mais fracas do MTC, e é por isso que muitos consideraram que adotar as políticas do grupo foi um grande erro.

Em seguida, vieram os eventos econômicos no período de 1990 a 1992

As taxas de juros estabelecidas pela Alemanha eram extremamente altas para conter a inflação. O dólar também havia se desvalorizado, e isso não foi nada bom para o Reino Unido. Os produtos exportados pelo Reino Unido ficaram mais caros no mercado americano, e ficava cada vez mais difícil para o Reino Unido acompanhar os esforços da Alemanha. Ser membro do MTC também significava que eles não podiam seguir um mecanismo de câmbio flutuante, o que diminuiria os preços de suas exportações.

O que se seguiu foi uma desvalorização da libra

O ambiente macroeconômico no Reino Unido e na Europa abriu caminho para o enfraquecimento da libra. Muitos traders, como Soros, identificaram uma oportunidade e decidiram apostar contra a libra. Posições no valor de bilhões de dólares foram assumidas, o que passou a aumentar ainda mais a volatilidade da moeda.

O governo do Reino Unido teve de intervir

O Tesouro já havia começado a intervir no mercado de câmbio, o que levou ao esgotamento de suas reservas. Sem muita ajuda dos outros membros do MTC, os esforços do governo foram inúteis. Na Quarta-Feira Negra, o Tesouro do Reino Unido chegou a comprar 2 bilhões de libras por hora, mas sem sucesso. A libra esterlina se enfraqueceu a ponto de levar o Reino Unido a sair do MTC.

Como George Soros tentou quebrar a libra esterlina

Foi na Quarta-Feira Negra que a fortuna de George Soros disparou, o que lhe rendeu sua reputação no mercado de Forex. Soros acreditava que não era realista que a libra mantivesse seu nível quando o Reino Unido aderiu ao MTC. Segundo ele, a libra teria que se desvalorizar em algum momento. Por conta disso, ele decidiu assumir uma posição vendida na moeda. Por meio de seu fundo Quantum, Soros começou a vender libras no valor de quase 10 bilhões. O envolvimento de outros traders e especuladores também ajudou Soros a aumentar sua posição, o que aumentou ainda mais a desvalorização.

Devemos observar que Soros anunciou sua opinião abertamente, o que causou pânico entre os investidores que operavam compradas na moeda. Foi quando esses investidores aceitaram a ideia de que a libra não poderia mais se manter naquele nível. De fato, a narrativa tinha fundamento, já que o ambiente macroeconômico do Reino Unido não dava sustentação ao nível de preço em que a libra esterlina se encontrava.

Soros começou a construir sua posição em agosto. Conforme as evidências de fraqueza da economia britânica ficavam cada vez mais claras, ele passou a alavancar a posição, ampliando ainda mais sua exposição. Era improvável que uma exposição desse nível passasse despercebida pelos hedge funds, portanto não demorou até que outros especuladores seguissem o exemplo. Certamente foi uma posição arriscada de se assumir, já que era nada menos que o governo do Reino Unido por trás da libra. No entanto, Soros reforçou sua análise; ele estava ciente da falta de reservas cambiais por parte do governo do Reino Unido. Ele também previu que as outras grandes economias não atuariam em seu socorro. Segundo algumas estimativas, Soros obteve um lucro de 1 bilhão de libras nesse período.

Resultados da Quarta-Feira Negra

Fazer parte do MTC ficou difícil para muitos países, e o nível de tolerância do grupo teve que ser ajustado. Moedas como a lira italiana também estavam sob pressão, mas os investidores se concentraram principalmente na libra esterlina. A partir do ocorrido, as regras foram relaxadas e os Estados-membros foram autorizados a seguir suas próprias políticas monetárias.

Para o Reino Unido, os efeitos de curto prazo foram profundos. Sua economia enfrentou uma recessão durante a primeira metade da década. O mercado imobiliário despencou, e o ambiente de negócios no Reino Unido sofreu uma forte deterioração. Uma das principais consequências da Quarta-Feira Negra foi a queda na popularidade do Partido Conservador – os Tories. O partido perdeu várias eleições após esse evento desastroso. Considerado um partido fiscalmente responsável e que promovia reformas econômicas, o fracasso do sistema financeiro mudou a percepção da população em relação aos Conservadores. Em 1997, eles sofreram uma derrota esmagadora, só retornando ao poder em 2010.

Em termos de formulação de políticas econômicas e monetárias, o Reino Unido passou a enfrentar a instabilidade econômica de maneira mais independente. O governo não estava mais sujeito às restrições estabelecidas pelo MTC. A dependência de outras economias foi removida, e a libra adotou um regime de câmbio flutuante. Nos primeiros anos, a economia continuou patinando, mas a Quarta-Feira Negra definiu o tom para uma reforma econômica mais robusta no longo prazo. Os formuladores de políticas agora podiam fixar as taxas de juros com base no ambiente inflacionário doméstico. Não era mais preciso seguir o regime de taxas de juros da Alemanha. A percepção da população também mudou: o sentimento pró-euro do Partido Conservador deixou de ser popular entre os britânicos.

Quais foram os benefícios?

As novas políticas estabelecidas pelo governo eram mais adequadas ao ambiente econômico do Reino Unido. Nos anos seguintes, o governo conseguiu combater a inflação. Ao manter um sistema de câmbio flutuante, a economia conseguiu se recuperar. A crescente taxa de desemprego também foi controlada. Mais importante ainda, o Reino Unido foi capaz de manter um status independente, o que resultou em uma economia mais forte.

A Quarta-Feira Negra também mostrou ao mundo as desvantagens de introduzir um sistema de câmbio fixo em toda a Europa. Esse evento abriu caminho para que normas mais flexíveis fossem adotadas em todos os países. Além disso, ele permitiu uma transição mais suave para uma moeda comum na região. A integração das economias na Europa só foi possível após as reformas introduzidas por conta da Quarta-Feira Negra. Essas políticas deram mais margem de manobra para que os países mais fracos pudessem fortalecer suas economias. O limite de 6% de oscilação na taxa de câmbio também foi relaxado para permitir movimentos mais justos do câmbio.

No Reino Unido, muitos consideram que a Quarta-Feira Negra foi uma bênção disfarçada. Desde que a crise da dívida soberana atingiu a Europa no final dos anos 2000, bilhões de dólares foram injetados para resgatar as economias mais fracas. Sem a intervenção de países como a Alemanha, a zona do euro teria se fragmentado. Enquanto isso, a Grã-Bretanha se manteve à margem da crise, sem sofrer grandes impactos econômicos. Se o Reino Unido tivesse adotado o euro, ele teria que atuar para salvar países como a Grécia. A economia do Reino Unido teve um desempenho comparativamente melhor durante essa crise. Portanto, se considerarmos as implicações da Quarta-Feira Negra no longo prazo, os benefícios parecem ter superado os custos arcados pelo Tesouro durante o crash.

Os problemas causados

Os termos do MTC podem ter sido excessivos, já que era difícil para muitos países manter um câmbio fixo. A Quarta-Feira Negra prejudicou a reputação do Banco da Inglaterra, e o governo do Reino Unido sofreu um prejuízo na casa dos bilhões. As perdas foram estimadas em mais de 3 bilhões de libras, uma quantia significativa no início dos anos 90. A estrutura semifixa também impediu que a libra fosse desvalorizada, o que prejudicou os negócios de exportação. Outras moedas fracas, como a lira italiana e a peseta espanhola, enfrentaram problemas semelhantes. Essas moedas estavam sobrevalorizadas quando entraram no MTC, e os esforços continuaram mesmo depois de o Reino Unido ter deixado o grupo.

Algumas das repercussões da Quarta-Feira Negra são visíveis até hoje. O resultado do evento resultou em uma Europa mais integrada, abrindo caminho para a formação da zona do euro, embora alguns dos problemas causados continuassem existindo. Mesmo com uma moeda comum na região, o fato de os países estarem vinculados a uma moeda única restringia sua capacidade de agir de forma independente. As taxas de câmbio costumavam ser uma ferramenta de controle das políticas econômicas, mas isso deixou de ser viável com o euro.

Para o Reino Unido, o impacto foi breve. A economia do país entrou em recessão e a inflação se tornou um problema crescente, e foi preciso muito esforço por parte do governo para restaurar o crescimento da economia. As altas taxas de juros encareceram os empréstimos, o que levou o mercado imobiliário ao colapso. O mandato do recém-eleito Partido Conservador entrou em crise logo depois da Quarta-Feira Negra. O evento também levantou preocupações quanto à capacidade dos governos de controlar suas economias – além melhorar a reputação de George Soros. A crise também exigiu o envolvimento dos participantes do mercado no desenvolvimento de políticas econômicas.

É possível haver outra Quarta-Feira Negra hoje em dia?

É possível, mas não é algo provável. Durante a Quarta-Feira Negra, havia pouquíssimos mecanismos de controle disponíveis para que o Banco da Inglaterra pudesse verificar a queda da libra. As reservas cambiais do banco central eram insuficientes para se proteger contra posições vendidas. Naquela época, não havia sistemas de tecnologia capazes de rastrear a atividade dos participantes do mercado, o que permitiu que as posições vendidas se acumulassem sem causar muito alarde.

Assumir uma posição contra uma moeda é um movimento muito mais arriscado hoje, principalmente com o aumento do poder dos bancos centrais. Na época, Soros usava fundos estrangeiros como alavancagem para assumir uma posição. Atualmente, esses movimentos podem ser facilmente contidos por meio de controles de capital de curto prazo sobre as entradas de fundos. Além disso, as reservas mantidas pelo governo do Reino Unido são substancialmente maiores hoje em dia, sem contar que sua economia também está em uma posição significativamente melhor. O monitoramento das negociações também ficou mais fácil com os sistemas digitais em tempo real. Em períodos de volatilidade extrema, o governo pode optar por fechar os mercados de Forex.

É claro que não podemos descartar completamente a possibilidade de ocorrer outra Quarta-Feira Negra. Houve vários casos nos mercados de capitais em que os preços caíram drasticamente, embora vários sistemas de controle tenham sido postos em prática. A libra se desvalorizou devido ao Brexit. Os preços das ações despencaram com a pandemia de Covid-19. A crise cambial asiática também veio depois da Quarta-Feira Negra; nesse caso, vimos o colapso de muitas moedas no Sudeste Asiático.

Um fator importante a considerar é que George Soros conseguiu obter fundos suficientes para abalar o Banco da Inglaterra. No entanto, no contexto atual, a possibilidade de um investidor impactar um banco central é improvável. Com a velocidade dos sistemas digitais e o nível de acesso às informações, movimentos desse tipo podem ser evitados até mesmo durante pequenas oscilações nas taxas de câmbio.

Conclusão

A Quarta-Feira Negra foi uma lição não apenas para o Reino Unido, mas também para governos em todo o mundo. Esse evento demonstrou como uma união de países pode falhar se ela não for mantida por princípios econômicos sólidos. A crise demonstrou as desvantagens de um sistema semifixo de moedas, o que dá aos países constituintes pouca liberdade na formulação de suas próprias políticas. Ela também demonstrou as fraquezas do sistema financeiro do Reino Unido e como investidores como Soros poderiam explorá-lo para obter ganhos absurdos.

A Quarta-Feira Negra foi uma lição para os bancos centrais e uma demonstração de como as coisas poderiam sair do controle se o sistema financeiro não fosse controlado de maneira adequada. Desde então, os bancos centrais passaram a ser mais vigilantes e proativos no acompanhamento dos mercados financeiros. A crise também destacou a necessidade de colaboração entre as economias: se a Alemanha tivesse intervindo no mercado de câmbio para fortalecer a libra, o resultado poderia ter sido diferente. Essa compreensão veio muito mais tarde, mas serviu como um catalisador no desenvolvimento de uma moeda comum na Europa. O maior beneficiário, no fim das contas, foi o Reino Unido.

A Quarta-Feira Negra foi um alerta que tornou a economia mais eficiente. O Tesouro britânico economizou bilhões de libras ao desde que o governo desistiu de fazer parte da zona do euro. No caso de Soros, o investidor conseguiu embolsar cerca de US$1 bilhão com a aposta, sendo reconhecido até hoje como um dos maiores especialistas em Forex do mundo.