Última atualização em maio 19, 2020
As tensões comerciais entre a China e os Estados Unidos tem sido discutidas exaustivamente em inúmeros artigos. A maioria deles está otimista sobre a possibilidade de reconciliação, já que examinam a situação pelas lentes de interesses econômicos racionais. Essas perspectivas não necessariamente levam em consideração os interesses políticos de Pequim e Washington em expandir sua influência. Muitos desses conflitos subjacentes têm uma longa história que não será resolvida com um simples acordo de taxas.
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A proposta de Pequim para a África
Uma das áreas periféricas deste conflito é a África. Enquanto a infraestrutura fraca do continente e a baixa performance econômica dificultam a participação no cenário mundial, seu infinito potencial de crescimento pode torná-lo fundamental para derrubar escalas de poder nas relações globais. Tradicionalmente, a África caiu sob a esfera de influência dos Estados Unidos, principalmente por conta dos milhões de dólares de ajuda humanitária e outros materiais de suporte.
O equilíbrio começou a se alterar quando a China começou a focar sua atenção no continente também. Pequim assumiu um papel diferente, mais assertivo, depois de perceber seu próprio poder econômico e político. Um dos seus objetivos era conquistar uma parte da hegemonia global dos Estados Unidos. Os números e valores dos investimentos chineses na África tem crescido consideravelmente desde a última década. O Investimento Estrangeiro Direto (FDI) subiu em aproximadamente 40%, e isto não inclui a contribuição considerável de ajuda governamental e subsídios. O resultado final foi que eventualmente, os investimentos chineses ultrapassaram os investimentos americanos.
Financiando investimentos
O presidente Xi Jinping promoveu uma ambiciosa política para estender a influência de Pequim sobre a África. Um dos maiores empecilhos para o desenvolvimento econômico da China é a falta de recursos. Fortalecer sua posição na África pode servir como solução a longo prazo para esta questão. O método utilizado para isso inclui o desenvolvimento da infraestrutura local em troca de direitos de mineração. A construção de estradas, ferrovias e utilidades desempenharam um papel importante neste processo. Além de produzir bens públicos, Pequim também concretizou sua influência na região. Eventualmente, o desenvolvimento da infraestrutura deixou de ser simples construções de rotas de transporte entre minas e portos. Quando os governos locais não tinham os fundos necessários para pagar por isso, a China prontificou-se a emprestar a quantia necessária através de crédito de governo e empréstimos comerciais para o desenvolvimento da infraestrutura.
Foi difícil para os Estados Unidos acompanhar o modelo chinês de desenvolvimento na África por vários motivos. Por um lado, a economia americana tornou-se predominantemente orientada por serviços na virada do século. Consequentemente, as únicas empresas capazes de entrar nos mercados africanos eram aquelas capazes de usar as telecomunicações resultantes do desenvolvimento de infraestrutura da China. O fato de uma empresa Chinesa ser a beneficiária final de projetos financiados pelo FMI e pelo Banco Mundial é uma prova da eficiência de sua indústria de construção. Apesar da influência dos Estados Unidos nessas organizações internacionais, suas regras rígidas estipulam que seus projetos devem ser escolhidos por procedimentos de procuração pública. A capacidade da China de apresentar propostas para as empresas que já estavam presentes no continente, deu a eles uma vantagem competitiva significativa sobre empresas do ocidente. No fim, a China recebeu 42% de todas os pedidos.
Pequim vs. Washington
Outra vantagem para Pequim, é que ela não tentou impor nenhuma exigência democrática ou outra ideologia sobre os governos africanos. Ela manteve o crédito fluindo mesmo sem preencher nenhum critério de direitos humanos. O modelo ocidental de exportação, tanto o capital quanto a cultura, não conseguiram competir. A racionalidade econômica da China provou ser popular em países menos inclinados à valores democráticos. Ao invés disso, o método escolhido pelos EUA, foi financiar diretamente organizações não-governamentais para driblar os governos locais e ajudar suas populações. Este é o chamado modelo Bussiness-to-Government do qual a China se afastou, em favor do modelo Government-to-Government.
De acordo com estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Pequim já emprestou $140 bilhões de dólares em financiamentos para a África desde 2000. Em 2018, aprovou mais $60 bilhões para os participantes do Fórum de Cooperação China-África. Antes, os participantes só tinham acesso à um humilde orçamento de $95 bilhões. Estes recursos desempenharam um papel fundamental na economia do continente.
A Huawei e a Transsion têm quase um monopólio no desenvolvimento, manutenção e operação de redes de telecomunicação. Nos negócios, Tencent e Alibaba tem quase o mesmo nível de influência. Os Estados Unidos ficaram para trás nesta disputa, assim como seus ativos estratégicos para diminuir os recursos que a China tem para investir. Se a China for obrigada a focar mais dos seus recursos internamente, como resultado do conflito comercial entre ela e os Estados Unidos, será favorável para fortalecer a posição dos Estados Unidos. Apesar de haver dezenas de motivos para as duas superpotências resolverem seus conflitos, essa área em particular não é um deles.
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